
A ilustração de hoje traz a força e a urgência de Lucas Castro, jovem nascido em Alter do Chão, no coração da Amazônia. Para muitos, Alter é a praia de água doce mais bonita do mundo. Mas esse território guarda muito mais: florestas, várzeas, savanas, igarapés, igapós, histórias e povos que resistem. Parte da família de Lucas vem da aldeia de Bragança, território Munduruku na Floresta Nacional do Tapajós.

Há 22 anos, no mesmo mês em que Lucas chegou ao mundo, foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão. Eles fazem aniversário quase juntos, separados por 15 dias. Lucas cresceu acompanhando as transformações da vila. Por omissão da Secretaria do Meio Ambiente, da prefeitura de Santarém e do conselho da APA, Alter segue sem plano de manejo. Esse instrumento deveria indicar áreas de preservação permanente, de recuperação, de uso sustentável e sociobiocultural.

Sem o plano de manejo, o território ficou vulnerável. Na última década, Alter enfrentou invasões de grileiros, loteamentos ilegais e desmatamento. No quebra-cabeça, eis o faroeste paraense. Lucas também testemunha outra espera: há mais de 15 anos o povo Borari, habitantes originários de Alter, aguarda a demarcação de seu território sem resposta do Estado. Sem a demarcação da TI, ficou ainda mais exposta.

Em Alter, seres das águas, da mata, do ar e até os invisíveis se entrelaçam numa rede ancestral de relações. Mas o olhar ganancioso de fora insiste em transformar beleza em mercadoria. Viciado na doença de lucrar, vê apenas oportunidade de exploração. Ignora que Alter é, ao mesmo tempo, abrigo de comunidades biológicas e abióticas, território indígena e área de proteção ambiental.

Proteger Alter é garantir que os sistemas de vida sigam pulsando. Os Borari, que habitam a região desde antes do século XVI, resistem e pedem a demarcação de seu território. Lutam porque sabem que a terra não é mercadoria, mas casa de muitos seres. Ao defenderem suas terras, defendem também os direitos da própria natureza e lembram que só há futuro se aprendermos a viver como parte dela.
