Pronaf subsidiando sojeiro?

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Vamos falar de crédito rural sem maquiagem? O Pronaf, criado para fortalecer a agricultura familiar, tem sido desviado de seu objetivo. Reportagem do O Joio e O Trigo (jun/25, https://abre.ai/pronafparaquem) mostrou que, em 2024, na Amazônia Legal, 91,7% dos créditos foram para a pecuária. Só 8,3% ficaram em “atividades agrícolas”, onde ainda prevalecem soja e milho. Já quem produz sociobiodiversidade quase nunca acessa crédito. Quilombolas, ribeirinhos e extrativistas esbarram em regras impossíveis em territórios coletivos.

“Nossa terra é coletiva, com produção coletiva. Mas eles exigem documentos individuais (CAF e CAR), que a gente não tem. Quando vamos ao banco, já dão um ‘não’. Nenhuma casa começa pelo telhado: começa do alicerce. O nosso alicerce é nossa terra”, explica Xifroneze Santos, do quilombo Caraíbas (SE).

Do outro lado, o recurso público tem sustentado a compra de veneno. Pesquisa do Instituto Escolhas (https://abre.ai/custodasoja ) mostra que, em 30 anos, a soja perdeu eficiência e rentabilidade: em 1993, 1 kg de agrotóxico rendia 23 sacas; em 2023, só 7. A tonelada de fertilizante que fazia 517 sacas hoje produz 333. Enquanto o glifosato subiu quase 100% entre 2013 e 2023, a saca de soja só 2%. Margens menores, solo frágil, pragas resistentes.

O quadro é ainda mais grave. Segundo a FAO (2022), o Brasil responde por 22% de todo o volume global de agrotóxicos e lidera o ranking mundial. Dependência química. Entre os cinco maiores produtores de soja, temos o pior índice de eficiência no uso do insumo por hectare cultivado: 12,63 kg/ha no Brasil, contra 5,94 na Argentina, 3,02 nos EUA, 1,76 na China e 0,24 na Índia.

Se o crédito público é para gerar alimento, renda e manter a floresta em pé, precisa chegar a quem já faz isso todo dia. A saída está em propostas já na mesa: ampliar documentos aceitos, permitir que associações emitam CAF coletivo e reservar um terço do Pronaf para cadeias da sociobiodiversidade. Apoiar agroecologia e práticas regenerativas é construir um futuro mais justo e saudável.

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