Vale do Jequitinhonha

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O Centro de Justiça Climática, em parceria com o Observatório do Jequitinhonha e a rede Climax Now, lançou a cartilha “A água é a terra: onde tudo que se planta nasce” (https://abre.ai/cartilha-agua). O estudo apresenta dados alarmantes sobre as dificuldades enfrentadas por comunidades negras rurais do Vale do Jequitinhonha (MG) para acessar água potável e segura. Em uma região marcada pela riqueza cultural, o que se repete é a injustiça: famílias inteiras dependem de baldes, cacimbas e caminhões-pipa, enquanto mineração e agronegócio avançam sobre rios e nascentes.

Nas casas sem abastecimento e sem saneamento básico, são ELAS, desde meninas, que seguem em busca da água. Conhecem os caminhos até as fontes, inventam maneiras de aliviar o peso da lata e aprendem a armazenar e a economizar cada gota. Com a água que carregam, cozinham, lavam, limpam e cuidam de crianças e idosos. A crise hídrica nunca é neutra. Tem gênero, tem cor, tem classe.

Essa desigualdade é reconhecida há anos. A UN-Water já alertava em 2006 para a carga desproporcional que recai sobre mulheres (https://abre.ai/un-water). Em 2023, a UNICEF confirmou: em 70% dos lares sem abastecimento, a tarefa de buscar água é delas (https://abre.ai/unicef-mulheres-agua). A tese de doutorado de Thaís Zimovski investigou como ELAS se relacionam com a água e com os espaços de decisão sobre sua gestão, como os Comitês de Bacia Hidrográfica. A pesquisa resgata vozes historicamente apagadas (https://abre.ai/doutorado-feminismo-decolonial).

Só venceremos a crise hídrica quando ouvirmos quem carrega a lata d’água na cabeça todos os dias e garantirmos que nenhuma Maria precise mais caminhar quilômetros para beber um copo de água limpa.

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