
Krenak fala do Capitaloceno, essa era em que deixamos que corporações, donas de um dinheiro inventado, tomassem conta da Terra e das nossas vidas. São elas que promovem uma exploração sem limites, um destruição planetária em busca de mais dinheiro (que uma hora vão descobrir que não vale nada). Para fazer isso possível, elas nos entucham coisas e mais coisas, uma estratégia manter as pessoas alienadas de tudo e sob controle.
É preciso ler e ouvir Krenak. Ele explica que, nesse liquidificador chamado humanidade, fizeram as pessoas acreditarem que tudo é mercadoria, que tudo está fora da gente. Nesse “mercado especialista em criar ausências”, fomos transformados em consumidores, clientes e não em cidadãos.
Explica que legitimamos um “clube que decide pelo mundo”, que na maioria das vezes só limita nossa capacidade de criação e liberdade. “Quando vamos entender que os Estados nacionais já se desmancharam?”, pergunta. O mundo já se moveu.
Mostra como isso tudo é uma abstração civilizatória absurda, que “suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Oferece o mesmo cardápio, o mesmo figurino e, se possível, a mesma língua para todo mundo.”
Escancara o mito da sustentabilidade, inventado pelas corporações pra justificar o assalto que fazem à natureza. “Começa como parque e termina como parking”, ironiza. E explica: fomos nos alienando da Terra, esse organismo do qual somos parte. Quando despertamos, vamos encontrar apenas os pedaços de planeta que as corporações não destruíram.
As corporações vem arrancando as pessoas de seus coletivos, de seus lugares de origem, apagando suas memórias ancestrais. ”Se a gente perde esse vínculo que sustenta nossa identidade, enlouquece nesse mundo maluco”. Pra Krenak, adiar o fim do mundo é aprender com quem ainda sabe viver em harmonia com a natureza e resiste, experimentando o prazer de estar vivas. E lembra: o mundo ainda está cheio de pequenas constelações de gente que dança, canta e faz chover.

