
Quinta-feira, 27 de novembro (uma semana depois da COP30), o Congresso destruiu a espinha dorsal da Lei Ambiental do país, sem qualquer embasamento técnico. Deputados e senadores recolocaram no texto o autolicenciamento dos Grandes Poluidores, o que quer dizer que agora quem destrói a natureza poderá conceder a si mesmo a licença para continuar destruindo. Ignoraram a ciência. Reduziram a participação dos povos indígenas. Esvaziaram o papel de Ibama, ICMBio e Funai. Assim, destruíram as salvaguardas que evitam novas Marianas e Brumadinhos. Fizeram isso para servir ao agronegócio e à mineração, não ao país (https://abre.ai/sumauma-pl-da-devastacao). É nesse cenário de cegueira sistêmica que as palavras do xamã Davi Kopenawa Yanomami se tornam ainda mais urgentes. Ele nos pediu para transmiti-las.

Os povos indígenas aprendem desde cedo que os seres humanos coexistem com a natureza, que a vida só é possível quando se respeita aquilo que sustenta a existência. Nas aldeias, a floresta é mestra. Cada criança cresce sabendo que todas as espécies e entidades compartilham o mesmo tempo e espaço. É o coletivo que ensina.

Do outro lado, longe desse conhecimento ancestral, fomos formados em um sistema que separa humanos da natureza e transforma tudo em mercadoria. Um sistema que nos treina a ver a terra como recurso e não como parente. Emburrecidos pela lógica do dinheiro, rompemos o elo que nos mantém vivos.



Kopenawa sabe que é a floresta polidiversa que atrai a chuva, que só há água onde há floresta saudável. Quando a terra fica nua, a fertilidade foge para longe. Por isso alerta: “Não as cortem. Ela não está ali por acaso. É ela que nos faz mexer.” Enquanto a floresta mantém a vida sobre a terra, são os xamãs, com a força dos xapiri, que seguram o céu e afastam o espírito da fome.

Escutemos Kopenawa. Façamos nossa parte cobrando quem legisla em nosso nome. O Congresso deve servir ao interesse do povo, proteger o meio ambiente e garantir os direitos das futuras gerações.
