
Somos parte de um metabolismo muito maior do que nós, uma teia de relações que nos antecede e nos excede. Não há organismo sem ecossistema. Há processos que não controlamos, relações que não percebemos e que, ainda assim, sustentam a vida.
Hoje, enfrentamos duas forças enormes atuando sobre o nosso nível de consciência: o colapso climático e o sistema econômico. De um lado, a própria Terra nos convoca a nos reconectarmos com a natureza: estamos marchando para a sexta extinção em massa. De outro, a estrutura de acúmulo de poder que organiza grande parte das sociedades reformula estratégias para manter a população presa à convicção de que o ser humano é mais importante que tudo.
Veja só as redes sociais. Estamos em um ambiente doentio, feito para inflar a visão antropocêntrica. Aqui, o algoritmo recompensa conforme está programado para recompensar. Nesse jogo diário, cada indivíduo é conduzido a permanecer sob as rédeas de um sistema que hoje prende 70% da população do planeta. Tudo tem pressa: um microestímulo empurra o outro, antes que o primeiro faça sentido. Você vê uma coisa e, antes de pensar, já vem outra e mais outra. É uma sucessão calculada de distrações.
O resultado é a soma de milhões de pequenas renúncias cotidianas à percepção de que existem outros mundos possíveis. Uma fábrica que manipula vaidade, medo, arrogância e competição para produzir o acúmulo de desistências internas cuja finalidade é a inação real.
Que armadilha! Nesse mundo virtual, não é possível enxergar as esferas de que fazemos parte. Não percebemos que a floresta não está performando para nós. O rio não está competindo numa corrida. Os insetos não estão pedindo likes para polinizar. A atmosfera não está regulando o clima para aumentar o número de seguidores. No entanto, são essas forças que mantêm tudo funcionando.
Do antropocentrismo ao ecocentrismo. O ser humano não é a medida do mundo. Nunca foi. Somos parte de algo muito maior, mais antigo e misterioso do que nossa imaginação costuma alcançar. Em qualquer sistema vivo, cada organismo cumpre uma função que sustenta o conjunto. Na ética da Terra, a vida volta a fazer sentido.
