Sociobiodiversidade

Nas cidades, onde a lógica do dinheiro domina as relações, tudo tem preço. Cada passo, cada coisa se transforma em número. Na floresta, não é assim. Nas comunidades, as relações ecocomunitárias não se medem em cifras nem em metas de produtividade. O que conta é a abundância do sistema, o bem viver coletivo. Nesses territórios, a comunalidade é soma de existências humanas e de outros seres, de todos os reinos. O futuro só existe se a biodiversidade estiver em pé, junto de seus guardiões.

Hoje muito se fala em “bioeconomia”. O tema entrou nas agendas de governos, empresas e organizações. Isso pode abrir oportunidades, mas também exige atenção. O risco é que a floresta seja tratada como mercadoria. Como lembra Nêgo Bispo, o sistema quilombola é outro: não é decolonial, é contra-colonial, porque nunca foi colonizado. Não opera na mesma lógica de aumentar produtividade e explorar o meio ambiente.

O Observatório da Sociobiodiversidade (ÓSócioBio) tem feito um trabalho importante: acompanhar políticas públicas e projetos de lei, garantindo espaço para que indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares sejam reconhecidos em sua força.

Se queremos que a sociobiodiversidade seja fiel às suas raízes, precisamos defender consumo local, cadeias curtas e cooperativas. É sobre autonomia das comunidades, protagonismo dos povos e a confluência de saberes ancestrais com a ciência que cuida (não aquela que foi cooptada pelo mercado e que trabalha para explorar mais e maximizar lucros). Enquanto o sistema do dinheiro fala em produtividade, o dos povos da floresta é baseado em viver sem devastar, em fortalecer a cultura, em proteger a floresta que é casa de todos.

Na Carta da Sociobiodiversidade 2025, construída coletivamente durante a Semana da Sociobiodiversidade em Brasília, com a participação de mais de 450 representantes de povos indígenas, quilombolas, extrativistas, agricultores familiares e organizações como o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e a CONFREM (Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas), em parceria com o ÓSócioBio, os povos dizem: precisamos de territórios protegidos, políticas públicas de verdade e reconhecimento do nosso protagonismo e modos de vida.

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