
Conta Ailton Krenak no livro Futuro Ancestral: “Assim como Gandhi e seus seguidores, Chico Mendes, seringueiros e indígenas organizaram uma resistência pacífica à atuação do Estado. Mulheres, crianças, homens, pessoas de todas as idades se postaram entre as árvores e as motosserras, cercando caminhos de quem chegava para fazer demarcações e impedindo que o dedo urbano – fosse ele de geógrafos, topógrafos ou sismógrafos – apontasse finais dentro da floresta. Não queriam estacas nem lotes, queriam a fluidez do rio, o contínuo da mata. (…) Houve ali um contágio positivo do pensamento, da cultura, uma reflexão sobre o comum. A Aliança dos Povos da Floresta nasceu da busca por igualdade nessa experiência política.”
Chico Mendes foi assassinado em Xapuri, no Acre, em 22 de dezembro de 1988, há 37 anos. Filho de seringueiros, foi um líder visionário, sindicalista, ativista, pacifista e ambientalista. Lutava pela proteção de territórios vivos, com identidades culturais e práticas sustentáveis. Apesar das inúmeras ameaças, não teve proteção do Estado. Foi morto com tiros de escopeta, na porta de casa, uma semana depois de completar 44 anos.

Seu legado é imenso. Entre as conquistas das quais fez parte estão:
– Empates: criou a estratégia pacífica em que famílias seringueiras se abraçavam às árvores para deter motosserras, prática que ganhou visibilidade mundial.
– Sindicatos: ajudou a fundar os de Brasiléia (1975) e Xapuri (1977), que enfrentaram o sistema de “aviamento” e lutaram por preços justos para o látex, além de saúde e educação para os trabalhadores.
– Reservas Extrativistas (RESEX): idealizou esse modelo de unidade de conservação, que garante o direito de uso da terra a populações tradicionais. A primeira, no Alto Juruá, foi criada em 1990 em sua homenagem.
– Aliança dos Povos da Floresta: aproximou seringueiros, indígenas e comunidades tradicionais na luta pela Amazônia e pela demarcação de territórios.
Saiba mais: Documentário Eu quero viver: https://youtu.be/eY2_HI0F-xw
