Intoxicação por mercúrio: o veneno invisível do garimpo sobre os povos indígenas

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O garimpo ilegal ultrapassa a invasão e a destruição de territórios indígenas. É também um envenenamento silencioso que atinge rios e povos da floresta.

Nos rios, o mercúrio despejado pelo garimpo é transformado por bactérias em metilmercúrio, forma altamente tóxica que se acumula nos peixes (bioacumulação) e se concentra cada vez mais à medida que sobe na cadeia alimentar (biomagnificação). Isso significa que os pequenos peixes acumulam o veneno, os maiores concentram doses ainda mais altas, e quem tem o peixe como base da dieta, como ribeirinhos e indígenas, recebe a carga mais pesada (https://abre.ai/intoxicacaomercurio).

No sudoeste do Pará, entre as Terras Indígenas Sai Cinza e Munduruku, onde vivem 11 mil indígenas, essa tragédia já dura anos. Foi diante desse cenário que, em novembro, o governo lançou a primeira fase da Operação Munduruku (https://abre.ai/operacaomunduruku). A ação destruiu acampamentos, máquinas, embarcações e inutilizou milhares de litros de combustível usados na mineração ilegal. Mas o território segue à espera das próximas fases.

Reportagem da Agência Pública (https://abre.ai/publicamunduruku) mostrou que, mesmo após a desintrusão, invasores permanecem. Lideranças denunciam fome em algumas aldeias, já que a ação não veio acompanhada de serviços sociais.

Esse descaso acontece em meio ao contrabando de mercúrio no Brasil. Um estudo do Instituto Escolhas (https://abre.ai/escolhasmercurio) revelou que, entre 2018 e 2022, garimpos usaram até 254 toneladas do metal. Mas o país importou oficialmente apenas 68,7 toneladas. Ou seja: mais de 185 toneladas podem ter origem ilegal.

Parte desse veneno escorre para o Tapajós. A Fiocruz, em parceria com o neurologista Erick Jennings, confirmou: em três aldeias do Médio Tapajós, 100% dos indígenas testados tinham mercúrio no organismo, e 60% estavam acima do limite seguro. Crianças já manifestam problemas neurológicos.

O documentário Amazônia, a Nova Minamata?, de Jorge Bodanzky, mostra como esse envenenamento repete a tragédia que matou e deixou sequelas em gerações no Japão. O mercúrio não desaparece quando os equipamentos são queimados. O Estado precisa garantir assistência de saúde aos povos afetados.

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