
“O que é preciso? Plantar.” Burle Marx é inspiração. Um criador de esperança, de lugares de afeto, de gestos de generosidade. Um artista que amava as plantas e os mistérios da luz e da Terra. Um ambientalista raiz. Quando o mundo ainda estava amarrado aos padrões rígidos e à monotonia dos jardins europeus, ele revelou a potência dos jardins tropicais e aquáticos, onde a ordem cósmica da vida se manifesta em movimento. Mostrou que beleza é experiência sensível, feita da qualidade dos encontros entre espécies e lugares. Cores, texturas, cheiros e caminhos que pulsam intensidade vital.
Descobriu dezenas de espécies. Além de jardineiro extraordinário, era artista plástico. Pintava jardins para deslocar o nosso olhar. Compunha paisagens que contassem histórias de vida, sempre superdiversas, priorizando plantas do habitat, mas sem xenofobia botânica. Seu horizonte era o ecocentrismo: impulsionar relações onde todos ganham, mostrar a convivência possível.
Chamou atenção por defender que jardins deveriam ensinar a conviver em harmonia. Hoje, quando tantas telas e redes sociais estreitam o nosso campo de visão e alimentam conflitos, seus jardins continuam abrindo espaço para um outro modo de ver a Terra. Dispunha pequenos, médios e grandes volumes de plantas, cores, cheiros e texturas como quem oferece caminhos de aprendizado. Do mundo para o mundo.
Criou os jardins do Aterro do Flamengo, do Museu de Arte Moderna do Rio, da Praça de Casa Forte, em Recife, de Inhotim, em Minas, os jardins da UNESCO em Paris, do Itamaraty, do Parque Municipal de Hamburgo, entre tantos outros. Seu Sítio em Guaratiba, hoje sob cuidado do IPHAN, guarda mais de 3.500 espécies. Todos deveriam se dar a chance de caminhar por esses espaços, com tempo e curiosidade.
Burle Marx dizia: “Os jardins não começaram comigo e nem vão terminar depois de mim. Espero que haja outras pessoas interessadas na perpetuação das plantas.” Precisamos continuar esse legado com a pressa mansa de quem tem o coração aberto para compreender que a vida pede cuidado agora.
OBS: As palmeiras Talipot plantadas por ele no Aterro do Flamengo estão em florescência pela primeira e única vez. Se estiver no Rio, só vá.
