Serra da Moeda – Coca Cola

Será mesmo que a tal “Fábrica da Felicidade”, como a Coca-Cola chama sua unidade em Itabirito (MG), trouxe felicidade para quem vive ao redor? Desde 2018, biólogos e movimentos socioambientais denunciam que a “maior fábrica verde do sistema Coca-Cola no mundo” estaria secando nascentes que alimentam o rio Paraopeba, a Serra da Moeda e o rio das Velhas. O rebaixamento do lençol freático, causado pelo bombeamento intenso, já era alvo do Ministério Público quando escrevi sobre isso em 2021.

De lá para cá, os impactos só se confirmaram. Foram quase dez anos de disputa: relatórios da empresa e do poder público eram questionados por especialistas independentes, até que, em 2022, um laudo oficial reconheceu o que a comunidade já sentia. As captações da fábrica estavam, sim, interferindo nas nascentes.

Em dezembro passado, reportagem do Outras Palavras mostrou o tamanho do estrago: cerca de 800 famílias do distrito de São José do Paraopeba perderam o acesso à água de suas próprias fontes. Quem antes bebia direto da serra agora convive com torneiras secas, enquanto a multinacional segue enchendo milhões de garrafas para vender refrigerante e água engarrafada.

E o problema não para aí. A mesma empresa que seca nascentes é também a maior poluidora plástica do planeta. Pelo quinto ano consecutivo, a Coca-Cola foi apontada como a marca que mais gera lixo plástico, segundo o relatório Global Brand Audit 2023 da organização Break Free From Plastic. São bilhões de embalagens descartáveis que terminam em rios, mares e lixões, agravando a crise ambiental em escala global.

A contradição é gritante: enquanto a empresa se promove com o marketing “verde”, comunidades e ecossistemas no mundo todo pagam o preço da escassez e da poluição. Não é por falta de provas, mas pelo poder que grandes poluidores exercem para retardar processos, enfraquecer fiscalizações e adiar medidas urgentes.

Cabe a nós não aceitar a alienação de cada rótulo colorido. É tempo de cobrar responsabilidade, justiça climática e o direito básico à água limpa. Num cenário de crise global, não dá mais para normalizar que corporações gigantes sigam lucrando enquanto o planeta e as pessoas pagam a conta.

Saiba mais:
DW (2018): https://abre.ai/denunciacoca2018
Maior Poluidora (2023): https://abre.ai/cocalixo
Outras Palavras (2024): https://abre.ai/denunciacoca2024

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