Sucessão natural

Nada nasce pronto. A floresta também não. Ela se constrói em ciclos, de dentro pra fora, de baixo pra cima, de curto pra longo prazo. Cada fase da sucessão ecológica prepara o terreno para a próxima. Cada ser que chega cumpre sua função e, ao partir, deixa algo essencial para os que virão.

É assim que a vida se organiza. Não basta plantar a muda de uma árvore clímax (que aparece nas últimas fases da sucessão ecológica, quando a floresta já está estável e madura, representando o equilíbrio do ecossistema) e esperar que ela cresça em campo aberto, exposta ao sol e à chuva. Como um recém-nascido, ela precisa de abrigo, de água, de proteção. Precisa da placenta composta por plantas iniciais, médias e tardias, como ervas, arbustos e pioneiras que cobrem o solo, criam matéria orgânica, atraem microrganismos e inauguram as biointerações no solo.

Só depois o meio está prepardo para o crescimento das espécies secundárias. E, com o tempo, as clímax. Por isso, um sistema agroflorestal saudável nunca é feito de espécies isoladas, nem de um único ciclo. Ele é feito de camadas vivas no espaço e no tempo, onde a cooperação vence a competição e a abundância emerge da diversidade.

Essa sabedoria não é nova. Povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares, em diferentes biomas, há muito reconhecem que a abundância não vem do acúmulo, mas da convivência entre os ciclos. Suas roças, quintais e sistemas de manejo expressam uma lógica de regeneração que respeita o tempo da terra e escuta o chamado da floresta.

É preciso respeitar a floresta como a floresta quer ser. Com ritmos, funções e interdependência. Reflorestar, nesse sentido, é respeitar que a rede de recursos é para todos na comunidade de seres vivos que interagem com o ecossistema, ampliando a quantidade e qualidade de vida existente em cada lugar. É lembrar que não se regenera o mundo com pressa, mas com presença. Que a vida só prospera quando respeitamos sua sucessão.

Cada ciclo tem seu papel. Cada espécie, sua missão. Cada tempo, sua potência. E, como nos lembra Ernst Götsch, “a sucessão natural é o meio pelo qual a vida atravessa o espaço e o tempo”. 

Saiba mais:

Vida em sintropia: agricultura sintrópica de Ernst Götsch explicada. Por Dayana Andrade e Felipe Pasini.1. ed. Labrador, 2022 e ed. Bambual, 2023: https://abre.ai/vidaemsintropia

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