Queremos ser floresta

A biodiversidade não se proclama da boca pra fora, se vive em cada esfera da convivência. Precisa ser prática cotidiana. Superar a monocultura é abrir espaço para a diversidade em tudo: no jeito de aprender, de se relacionar, de contemplar a paleta viva da Terra. Somos fios de uma mesma trama. É tempo de reflorestar a mente com múltiplas perspectivas, linhas e expressões, acompanhando os fluxos do tempo e do espaço.

Os povos indígenas e quilombolas sempre ensinaram que a vida não é posse, é pertencimento. A floresta é rede, nunca indivíduo. São ondas de luz e de som. É solo vivo, é ar, é água, é microvida, é o zum-zum da abelha, o pulo do mico, o voo do pássaro. É a chuva. É o cipó se espiralando para o alto e os fungos que se espalham para longe, tecendo no invisível. Nenhuma árvore cresce sozinha, nada floresce isolado. Mesmo no pousio, quando a terra parece em silêncio, ela respira e prepara o despertar.

A ajuda mútua é lei universal. A floresta dá fruto, sombra e oxigênio sem esperar retorno porque não é troca, é confluência, é fluxo, é onda. Assim também os povos compartilham saberes, como rios que se juntam e seguem mais cheios, com a potência dos encontros.

A vida é simples. Os povos tradicionais sabem que da simplicidade que nasce a alegria. E ela não se acumula, ela circula. É roda, canto, tambor, ritual. É brilho que resiste e se multiplica.

O bem viver é horizonte ético: plantar sem devastar, colher sem esgotar, celebrar sem destruir. É caminhar em aliança com a floresta, com os rios, com os que vieram antes e os que virão. É reflorestar tudo o que está degradado, começando pela consciência.

Estamos na Terra e não temos outro lugar. Ela é viva como nós. Esperançar é confiar no caminho, cultivar sonhos como fazem os pajés e griôs, ensaiando futuros. Quando cuidamos do todo, cuidamos de nós mesmos.

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