Oi, eu sou a restinga

Ao longo do litoral brasileiro, as restingas formam um ecossistema que só existe em solos arenosos e salinos. Além de fixar dunas e estabilizar manguezais, essas áreas ajudam a amortecer o impacto das marés. Também protegem o solo da erosão e mantêm o equilíbrio do clima costeiro. No Brasil, as restingas são protegidas por lei como Áreas de Preservação Permanente (APP), o que significa que não podem ser ocupadas nem devastadas.

Na fauna, a restinga abriga uma diversidade de répteis, anfíbios, pequenos mamíferos, aves costeiras e insetos, cada um com um papel importante para manter o equilíbrio ecológico do local. Já na flora, encontramos desde gramíneas e plantas herbáceas com raízes profundas até espécies arbustivas, todas adaptadas para aguentar a salinidade, altas temperaturas, solo pobre e o constante vento marítimo. Essas adaptações das plantas incluem espécies com folhas pequenas, coriáceas ou suculentas, com cutícula espessa e presença de tricomas (pelos) que ajudam a reduzir a perda de água. Algumas evoluções permitem que certas espécies consigam excretar o excesso de sal absorvidos pelo solo/ar por glândulas de sal!

Esses ecossistemas se formaram há milhares de anos, com a deposição de sedimentos trazidos pelo mar. Embora compartilhem espécies com biomas vizinhos, as restingas guardam espécies endêmicas — aquelas que só existem ali. Infelizmente, muitas delas estão ameaçadas de extinção, como a herbácea 𝐵𝑎𝑐𝑜𝑝𝑎 𝑐𝑜𝑐ℎ𝑙𝑒𝑎𝑟𝑖𝑎, do Ceará, o rizomatoso pinheirinho-da-praia 𝐶𝑦𝑝𝑒𝑟𝑢𝑠 𝑝𝑒𝑑𝑢𝑛𝑐𝑢𝑙𝑎𝑡𝑢𝑠 e a trepadeira 𝐶𝑎𝑛𝑎𝑣𝑎𝑙𝑖𝑎 𝑟𝑜𝑠𝑒𝑎 presentes em toda a região costeira do Brasil, as árvores de pequeno porte 𝐷𝑢𝑔𝑢𝑒𝑡𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑔𝑎𝑒, 𝑀𝑦𝑟𝑐𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑔𝑎𝑒 e a 𝐸𝑢𝑔𝑒𝑛𝑖𝑎 𝑙𝑢𝑠𝑐ℎ𝑛𝑎𝑡ℎ𝑖𝑎𝑛𝑎 (a pitomba-da-Bahia), ambas do litoral baiano.

As restingas são muito mais que faixas de areia, são escudos naturais que protegem nossas praias da erosão e também filtram a poluição antes de chegar na água. Sem surpresa, suas principais ameaças são humanas, com a ocupação desordenada e a construção de imóveis na praia, a poluição e o turismo predatório. Para proteger as restingas, precisamos, antes de tudo, conhecer e valorizar esses ecossistemas.

Saiba mais:
Biogeography of restinga vegetation – ECOSYSTEMS • An. Acad. Bras. Ciênc. 96 (2) • 2024 • https://doi.org/10.1590/0001-3765202420230925
𝐵𝑎𝑐𝑜𝑝𝑎 𝑐𝑜𝑐ℎ𝑙𝑒𝑎𝑟𝑖𝑎 – Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB21057).
𝐶𝑎𝑛𝑎𝑣𝑎𝑙𝑖𝑎 𝑟𝑜𝑠𝑒𝑎 – Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB82745)
𝐶𝑦𝑝𝑒𝑟𝑢𝑠 𝑝𝑒𝑑𝑢𝑛𝑐𝑢𝑙𝑎𝑡𝑢𝑠 – Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB604970)
𝐷𝑢𝑔𝑢𝑒𝑡𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑔𝑎𝑒 – Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB110339
𝐸𝑢𝑔𝑒𝑛𝑖𝑎 𝑙𝑢𝑠𝑐ℎ𝑛𝑎𝑡ℎ𝑖𝑎𝑛𝑎 – Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (http://floradobrasil2015.jbrj.gov.br/FB10444)
𝑀𝑦𝑟𝑐𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑔𝑎𝑒 – Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB611825)
Livro PDF: “O Tempo e a Restinga”: https://bit.ly/2QngXDX
“Restinga” – Estudo Prático: https://goo.gl/Uz0ak3

2 comentários em “Oi, eu sou a restinga”

  1. acho que a área de restinga em Camboriú, será necessária devido a erosão que tende a acontecer ao longo do tempo. Espero que o prefeito daquela cidade se posicione a favor da natureza.

  2. Pingback: Ameaça à restinga da Praia Brava de Caiobá, em Matinhos/PR

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