Fragmentar florestas acelera o desmatamento e intensifica a degradação florestal. Quando grandes áreas de floresta são divididas em pedaços menores, surge o chamado “efeito de borda”. Nessas bordas, a floresta enfrenta mais luz e calor, menor umidade do ar e do solo, além de ventos intensos. Isso favorece incêndios no sub-bosque, degradação por exploração ilegal e seletiva de madeira, especulação imobiliária e grilagem de terras públicas.
Um estudo publicado na revista Science revelou que a fragmentação da floresta amazônica é tão prejudicial ao aquecimento global quanto o desmatamento direto. Entre 2001 e 2015, aproximadamente um terço das emissões de gases de efeito estufa da Amazônia veio dessas áreas fragmentadas.
Por quê? As bordas são mais secas e quentes, recebendo luz direta, o que torna impossível a sobrevivência de muitas espécies. Essas áreas também estão em contato com queimadas, pastagens e plantações, agravando a decomposição da vegetação, que libera o carbono armazenado na biomassa.
Segundo Luiz Aragão, pesquisador do INPE: “Os problemas abordados no estudo não são questões partidárias, mas desafios nacionais. Precisamos favorecer o desenvolvimento de forma sustentável e restabelecer nosso papel no combate às mudanças climáticas.”
Além das emissões, a fragmentação reduz a capacidade da floresta de fornecer serviços essenciais, como:
1) Suporte: formação do solo e ciclagem de nutrientes;
2) Provisão: alimentos e medicamentos;
3) Regulação: controle de erosão, regulação climática e purificação da água;
4) Cultura: ecoturismo e valores espirituais.
Hoje, cerca de 17% da Amazônia já foi desmatada (aproximadamente 1 milhão de km²), e 2,5 milhões de km² estão degradados. Mais da metade dessa degradação ocorreu nos últimos 30 anos. O Brasil lidera em desmatamento e degradação, sendo a pecuária a principal causa, seguida por mineração e grandes obras, como barragens e estradas.
Saiba mais:
Silva Junior et al., Persistent collapse of biomass in Amazonian forest edges following deforestation leads to unaccounted carbon losses. Sci. Adv.6,eaaz8360(2020).DOI:10.1126/sciadv.aaz8360
Lapola et al., The drivers and impacts of Amazon forest degradation. Science (2023) – DOI: 10.1126/science.abp8622
Albert et al., Human impacts outpace natural processes in the Amazon. Science 379, 348 (2023) – DOI: 10.1126/science.abo500
“Fragmentação florestal na Amazônia emite um terço do carbono produzido pelo desmatamento, diz estudo” – Folha de S. Paulo: https://bit.ly/33aI11g