Todo dia é dia da Amazônia

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Pesquisas arqueológicas e paleoambientais mostram que povos indígenas habitam a região há pelo menos 12 a 15 mil anos. Foram eles que ajudaram a moldar a vegetação, deixando verdadeiros pomares por onde passavam. Um saber ecológico ancestral que entende a floresta como um organismo vivo. Desse manejo nasceram e se fortaleceram mais de 85 espécies de plantas que continuam predominantes até hoje, como o cacau, a mandioca, o açaí, o pequiá, o tucumã, a pupunha, o buriti, a castanha-do-pará, o abacaxi e o urucum.

O artigo científico “A floresta é o domus”, publicado em 2019 no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, mostra como antigas ocupações indígenas ajudaram a constituir o que conhecemos como floresta amazônica. Os autores, os arqueólogos Myrtle Shock e Claide Moraes, da UFOPA, revisam pesquisas que comprovam isso: https://abre.ai/amazoniadomus.

Um exemplo marcante é a Caverna da Pedra Pintada, em Monte Alegre (PA), que guarda pinturas rupestres feitas há cerca de 11,2 mil anos, datadas por radiocarbono. No mesmo sítio arqueológico foram encontrados vestígios botânicos fossilizados, como restos de frutos, palmeiras e castanheiras, que a paleoecologia utiliza para reconstruir a interação ancestral entre os primeiros habitantes e a floresta.

Reportagem da BBC lembra que, mais que conservar áreas verdes e plantar muito, esses povos criaram a Terra Preta de Índio, um solo fértil e rico em nutrientes (https://bbc.in/3EK2Npq). Os agricultores ancestrais não precisaram expandir o desmatamento para produzir mais. Em vez disso, melhoraram o solo, desenvolvendo formas sustentáveis de agricultura que ainda hoje inspiram a ciência.

A Amazônia é indígena. Celebremos esse legado milenar e assumamos a responsabilidade de defendê-lo. Apoiar os povos indígenas é proteger a floresta. O sistema decadente em que vivemos quer transformar a Amazônia em mercadoria a ser devorada. Como lembra Ailton Krenak, vivemos uma distopia: em vez de imaginar futuros possíveis, passamos a consumi-los. Que sejamos firmes para dizer não ao desmatamento, ao garimpo ilegal, à invasão de terras e ao leilão de rios e florestas. Defender a Amazônia é defender o futuro.

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