
Mais de 4,5 milhões de pessoas foram sequestradas da África e trazidas à força para o Brasil entre os séculos XVI e XIX. Homens, mulheres, crianças. Gente com sonhos, famílias e histórias. Foram arrancados de suas terras, vendidos como mercadoria e submetidos a mais de 350 anos de escravização em lavouras, engenhos, minas e casas grandes. Sob correntes e chicotes, sofreram violência física, sexual e a vã tentativa de silenciar suas culturas ancestrais. E ainda assim, nesse chão duro, a semente da esperança brotou: primeiro em pequenos grupos, depois em comunidades inteiras escondidas em serras, matas e grotões. Nasciam os quilombos.
Por volta de 1580, na Serra da Barriga, entre Alagoas e Pernambuco, começou a se formar Palmares, um dos maiores símbolos de resistência coletiva do período colonial. Com o tempo, abrigou mais de 20 mil pessoas (mais que muitas cidades na época). Ali se plantava, se caçava, se pescava, se construía. Mas também se cantava e celebrava. Entre batuques, a ginga. Entre sabores que guardavam memórias de África, a receita da esperança. Ali havia governo, economia, espiritualidade e cultura. Ali se defendia, com coragem e alegria, o bem-viver.
Zumbi nasceu em 1655. Ainda menino, foi capturado e entregue a um missionário católico. Aprendeu português e latim. Aos 15 anos, escapou e voltou a Palmares. Logo mostrou habilidade estratégica. Ganga Zumba, líder do quilombo e parente da princesa congolesa Aqualtune, o apadrinhou. Zumbi cresceu e se tornou comandante das forças de Palmares. Ao seu lado estava Dandara, também guerreira. Vale ver o filme Quilombo (1984), disponível aqui: https://abre.ai/filmequilombo
E os quilombos resistiram ao tempo e à violência. Hoje, o Brasil tem 7.666 comunidades quilombolas, espalhadas em 8.441 localidades (IBGE, Censo 2022). Neles, a terra é coletiva, a roça é diversa, há partilha dos bens comuns. Isso é agroecologia na prática, antes mesmo da palavra existir.
Encarar esse passado é necessário. O tráfico humano atlântico e cativeiro foram crimes de lesa-humanidade. Reconhecer isso é o primeiro passo. Mas a verdadeira justiça exige reparação histórica: garantir terra, dignidade e direitos às comunidades quilombolas.

