Iara, Mãe-d’Água

Na forma de conceber a origem do mundo, da existência e de seus propósitos, das relações entre os seres e do porquê de estarmos aqui e agora, os povos indígenas compreendem que as vidas não humanas (florestas, águas, animais, rochas etc) têm entidades guardiãs com as quais todos mantêm uma relação de respeito. As águas, que habitam o planeta desde quando surgiu a vida, têm seus seres protetores e presenças encantadas.

Os povos originários sabem das coisas ancestrais. A memória coletiva é transmitida há milhares de anos pela oralidade. Em rodas de conversa. À beira do fogo. Ou mesmo no dia a dia, durante um banho no igarapé ou no preparo coletivo do vinho de açaí. Esse conhecimento permanece vivo. São memórias contadas por diferentes pessoas nas aldeias. Fragmentos que se colam na vivência social indígena.

Hoje, podemos entrar em contato com esses conhecimentos. Isso deveria abrir percepções que rompem a visão estagnada de mundo. O escritor indígena Daniel Munduruku fala sobre essa linha entre a oralidade e a escrita, onde a memória busca novas tecnologias para se manter viva e aberta. Uma forma contemporânea para a cultura ancestral ser conhecida.

A Iara, também chamada Uiara ou Mãe-d’Água, é uma entidade encantada, guardiã das águas. Guarda a sabedoria universal. Não é a sereia branca da luz do luar que aparece em contos estrangeiros. A Iara pertence aos povos dos rios. Vive entre mundos. Pode assumir forma humana para caminhar entre nós antes de regressar ao seu reino.

A artista Natália Lobo, autora desta homenagem a Iara, conta:
“Já ouvi histórias que elas vivem também entre nós, que se disfarçam como pessoas e podem voltar pro seu mundo. Onde eu cresci, quando morava mais perto do rio, costumava oferendar peças de barro para pedir proteção naquele lugar.”

Há relatos de pessoas que são convidadas a dar um mergulho profundo e transformador guiado por Iara. Os que recebem esse honroso convite voltam com a visão ampliada da existência.

Entrar em contato com essas histórias nos permite vislumbrar que todo território tem guardiões. Proteger as águas e seus territórios é, também, reconhecer o sagrado e a fonte de toda vida na Terra.

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