Yacouba Sawadogo e Thomas Sankara

Em 1946, quando Yacouba nasceu numa aldeia de agricultores tradicionais no norte de Burkina Faso, na região do Sahel –margem sul do Deserto do Saara–, seu país sem litoral ainda era colônia francesa e seria ainda por outros 14 anos, até agosto de 1960. Na época chamado de Alto-Volta (nome que também tinha sido dado por europeus, neste caso, conquistadores portugueses da época dos “Achamentos” nos séculos XV e XVI), o estado sofria exploração de ouro e, também, de algodão plantado nas margens dos rios Volta Branco (leste), Volta Vermelho (região central) e Volta Negro (oeste).


Yacouba cresceu e se educou ouvindo histórias sobre seus antepassados. Sabia, de maneira intuitiva, que para impedir a desertificação de seu vilarejo, ele e todos precisavam plantar árvores. Por um genuíno interesse ecológico e missão de vida, desde jovem Yocouba estimulava o plantio de árvores na aldeia. Trazia uma diversidade de sementes nativas colhidas das florestas do sul de Burkina e implantava, ao seu modo, um modelo agroflorestal criando uma floresta de alimentos na região mais árida de seu país. Assim, foi ganhando a fama de “o homem que parou o deserto” no Sahel.


Em 1983, Thomas Sankara assumiu o governo depois de 20 anos de independência e implementou uma série de reformas para tornar o país autossuficiente e reduzir a interferência externa. Para isso, pediu participação popular no governo, distribuiu terras para que famílias tradicionais pudessem cultivar alimentos e formar cooperativas agrícolas.


Ao ouvir falar de Yacouba, foi descobrir seu segredo. Yacouba explicou que cuidava do solo, afofava a terra com uma enxada, usava cinzas e esterco como adubo, cercava a área de plantio com pedras para reter mais água das chuvas e ampliava a profundidade dos berços em buracos chamados “zai” onde colocava sementes nativas com terra adubada. Com essa técnica, ele já tinha florestado mais 30 hectares e constituído um banco de sementes nativas para os campesinos.


Sankara ficou maravilhado com Yacouba e quis multiplicar a experiência. Em 15 meses, promoveu a construção de 7 mil viveiros populares, dando apoio técnico, ferramentas e sementes para todas as aldeias. Também, promoveu a construção de infraestruturas agrícolas para irrigação e armazenamento da produção. Com a campanha de 10 milhões de árvores ⎼ cada aldeia tinha que plantar ao menos 100 árvores ⎼ e promoção de técnicas agrícolas sustentáveis, Sankara queria combater a desertificação e a degradação ambiental.


Em 1987, Sankara foi assassinado, mas até hoje é um símbolo contra a opressão e o imperialismo no continente africano. Yacouba recebeu várias homenagens por suas contribuições para a agricultura sustentável e o combate à desertificação. Em 2018, recebeu o Prêmio Right Livelihood, também conhecido como “Prêmio Nobel Alternativo”, por regenerar paisagens degradadas, recuperar a fertilidade do solo, garantir a segurança alimentar e fortalecer as comunidades rurais.


Saiba mais:
VÍDEO: “O Homem que Parou a Desertificação” – Permacultura: https://youtu.be/ykD_O6NpQmQ
Yacouba Sawadogo transforma terras áridas em florestas – DW Brasil: bit.ly/3MiOZHd
Sankara e Sawadogo: agroecologia e revolução – Teia dos Povos: bit.ly/3IfgNev

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