Só nos rios da Amazônia moram os botos encantados. Em mais nenhum lugar do planeta, só neste ambiente. Boto não dorme, vem de repente, vira gente e encanta quem está na frente. Em mais nenhum lugar do planeta. Como é bom de ver no sol poente: o boto dança, mergulha, canta, ri.
O rosa é fantasia. Dessa cor, quem pintou? O tucuxi, acinzentado, é também boto encantado, parente dos golfinhos marinhos, na Amazônia ambientado.
Os cientistas classificam quatro espécies: a 𝘐𝘯𝘪𝘢 𝘨𝘦𝘰𝘧𝘧𝘳𝘦𝘯𝘴𝘪𝘴, na Bacia Amazônica e do rio Orinoco; a 𝘐𝘯𝘪𝘢 𝘣𝘰𝘭𝘪𝘷𝘪𝘦𝘯𝘴𝘪𝘴, na Bacia do rio Madeira; e a 𝘐𝘯𝘪𝘢 𝘢𝘳𝘢𝘨𝘶𝘢𝘪𝘢𝘦𝘯𝘴𝘪𝘴, na Bacia Araguaia-Tocantins. Temos também o 𝘚𝘰𝘵𝘢𝘭𝘪𝘢 𝘧𝘭𝘶𝘷𝘪𝘢𝘵𝘪𝘭𝘪𝘴, na bacia do Amazonas e do Tapajós. Todas essas espécies estão ameaçadas de extinção.
Que o ecoturismo resgate nosso olhar para os botos. Em setembro, a vila de Alter do Chão a 37km de Santarém, no Pará, realiza a festa mais antiga da Amazônia: o Sairé (ou Çairé, na grafia antiga) e a disputa dos botos. A festa secular tem, na sua origem, uma celebração indígena. Os jesuítas, como forma de catequizar os nativos da Amazônia, apropriaram-se do ritual tupinambá e inseriram novos símbolos do cristianismo, cantos e orações. Inculturação da fé, isto é, um método para harmonizar a cultura nativa e o cristianismo. Atualmente, além do ritual religioso, a festa realiza uma disputa entre duas escolas: a do boto rosa e a do tucuxi.
Este ano, o programação oficial da festa começa no sábado 14 de setembro com o cortejo fluvial de busca dos mastros. No fim da tarde, moradores e turistas fazem um ritual com beija-fita e ladainhas com participação especial da pianista Carla Ruaro. Na mesma noite, tem apresentação da Banda Espanta-cão e do grupo de mulheres indígenas Karuanas. Depois a festa tem 6 dias de pausa ritualística para apreciar e mergulhar nas belezas do Tapajós, e recomeça na sexta, 20, com a disputa dos botos.
Saiba mais:
Boto cor-de-rosa entra na lista de ‘perigo de extinção’: https://bit.ly/3MjpQwI
Sairé ou Çairé 2024: https://bit.ly/4cBM0Vx