

Recentemente, cientistas publicaram um estudo revelando algo que os povos originários já sabiam: em cada árvore também existe uma floresta inteira, invisível a olho nu. O estudo saiu na revista Nature (https://go.nature.com/4gz8N87) e mostrou que cada árvore abriga cerca de um trilhão de microrganismos em seus tecidos lenhosos. São bactérias e arqueias que formam comunidades próprias no alburno (a parte clara e mais externa) e no cerne (a madeira mais interna). É como se cada camada tivesse seu próprio bairro microbiano, convivendo com células vegetais.
Esses seres minúsculos não estão ali por acaso. Uns vivem em contato com oxigênio, outros sobrevivem sem ele, e juntos participam de processos que vão da produção de gases até a proteção contra doenças. O estudo também revelou que espécies diferentes guardam microbiomas distintos.
Essa descoberta reforça uma sabedoria antiga dos povos da floresta: tudo está interligado. Como lembra Ailton Krenak, “nós somos parte de um organismo vivo que respira, sente e compartilha a vida com tudo ao redor”.
Alguns cientistas, há muitos anos, também têm se aproximado desse modo de compreender a vida. A árvore não é um indivíduo isolado, mas um “holobionte”, um coletivo vivo onde milhões de existências se sustentam e cooperam. O termo foi criado pela bióloga Lynn Margulis (1938–2011), uma das grandes pensadoras da biologia moderna. Margulis revolucionou a ciência ao mostrar que a evolução não é feita apenas de competição, mas principalmente de cooperação. Para ela, todo organismo é, na verdade, um conjunto de seres que vivem em simbiose: bactérias, fungos, arqueias e vírus que, junto ao hospedeiro, formam uma unidade inseparável (https://bit.ly/holobionte).
Se cada tronco esconde universos microscópicos, imagine a floresta inteira. O que parece ser um só ser é, na verdade, um trilhão-em-um.
