Com vocês, os campos dos murundus, a maior obra de bioengenharia conhecida e estudada pela ciência! Observados por satélite, esses campos feitos por insetos sociais reúnem cerca de 200 milhões de montículos de terra engenhosamente espalhados por uma área quase do tamanho do estado de São Paulo, entre os estados de Minas Gerais e Bahia, na Caatinga brasileira. Com curiosa regularidade, cada monte tem, em média, 3 metros de altura e 4,5 metros de raio. Estão distribuídos a cada 20 metros, revelando um padrão geométrico quando visualizados do espaço. No entanto, o mais incrível da obra não pode ser visto na superfície, mas em sua profundidade: as pilhas de terra são feitas de sobras de uma rede complexa de túneis escavados por um tipo de cupim arquiteto, o Syntermes dirus, para facilitar a locomoção, a alimentação e a sobrevivência de gerações de colônias.
Na ecologia, os murundus funcionam como esponjas e têm importância na dinâmica hídrica. Com capacidade para reter e filtrar a água da chuva, essas estruturas alimentam lentamente os corpos de água subterrâneos. A bióloga Bruna Helena Campos, da Unicamp, em entrevista à revista da Fapesp, revela mais um benefício ambiental: “Os solos mal drenados dos campos com murundus também armazenam carbono retirado da atmosfera pelas plantas, contribuindo para a regulação do clima global.”
A datação dos murundus da Caatinga indica que eles foram construídos há aproximadamente 4.000 anos, destacando a capacidade desses insetos sociais. Há também campos de murundus no Cerrado, na Mata Atlântica e na Amazônia. Vivendo em colônias multigeracionais, onde o trabalho é altamente organizado e a comunicação é complexa, os cupins (assim como formigas e outros insetos sociais) conseguem moldar o ambiente e criar estruturas de grande impacto ecológico.
Saiba mais:
Martin, Stephen J. et al. “A vast 4,000-year-old spatial pattern of termite mounds.” Current Biology, Volume 28, Issue 22, PR1292-R1293, November 19, 2018. https://doi.org/10.1016/j.cub.2018.09.061
Campos, Bruna Helena. “Campos tropicais negligenciados: primeiro registro de campo com murundus e suas comunidades vegetais no estado de São Paulo, Brasil.” Biota Neotrop. 23 (1) • 2023 • https://doi.org/10.1590/1676-0611-BN-2022-1401
“Cupins construíram a maior estrutura do planeta no Nordeste brasileiro.” El País. https://bit.ly/4bHf5P1