
Em fevereiro, 29 técnicos do Ibama analisaram o pedido da Petrobras para perfurar na Foz do Amazonas. O parecer foi claro: a região é de altíssima sensibilidade, com a maior faixa contínua de manguezais do Brasil, habitat de peixes-boi, tartarugas e aves migratórias. Ali vivem comunidades ribeirinhas, pescadores artesanais e povos indígenas do Oiapoque (AP). Para eles, que dependem do mar e dos rios, um acidente seria devastador. As correntes são rápidas. Se houver vazamento de óleo, não existe logística capaz de conter a mancha a tempo. O petróleo se espalharia sufocando ecossistemas e modos de vida.
Climatologistas e ambientalistas reforçaram: mais de 75% das emissões que aquecem o planeta vêm da queima de petróleo, gás e carvão. A ciência mostra que não há espaço para novas fronteiras fósseis se quisermos evitar colapsos ainda mais graves.
Dentro do governo, a ministra Marina Silva se posiciona contra. Em abril, lembrou que o compromisso da COP28 foi planejar o fim dos fósseis e triplicar as energias renováveis. Ela insiste que a COP30 seja da implementação e não do marketing climático.
Mesmo assim, em maio, o governo cedeu ao lobby e à pressão política. A direção do Ibama contrariou seus técnicos e aprovou a última etapa conceitual do licenciamento do bloco 59, a 160 km do Oiapoque. Como revelou a Sumaúma (https://abre.ai/fozpetroleo), a decisão abriu caminho para a Petrobras perfurar em uma das áreas mais frágeis da Amazônia.
Em junho, a Agência Nacional do Petróleo leiloou mais 19 blocos na mesma região. Somados, eles representam 22 mil km² de área marítma concedida a empresas como Exxon, Chevron, CNPC e à própria Petrobras. O Observatório do Clima (https://abre.ai/leilaopetroleo) calcula que a exploração pode gerar até 11 bilhões de toneladas de CO₂ (o dobro do que os EUA emitem em um ano). Tudo isso sem consulta prévia às comunidades indígenas, como exige a Convenção 169 da OIT.
Agora, a menos de três meses da COP30 em Belém, o Brasil se prepara para receber o mundo para debater como reduzir a dependência dos fósseis. Mas enquanto o discurso fala em transição, o lobby do petróleo avança sobre a Amazônia. Essa contradição custa caro: para os povos, para o clima e para o futuro do planeta.
