Mudanças climáticas e oceanos

Novo relatório da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO descreve o estado atual e futuro dos oceanos com as mudanças climáticas. O aumento da temperatura, a desoxigenação e a acidificação das águas afetam toda a biota aquática, bem como os padrões de chuvas e ventos sobre os continentes.

AUMENTO DAS TEMPERATURAS DOS OCEANOS E DESOXIGENAÇÃO
Cada ano é o ano mais quente já registrado. O calor intenso tem aquecido as camadas superficiais de rios, lagos e oceanos. Esse aquecimento das moléculas de água (H2O) diminui a capacidade de difusão das moléculas do gás oxigênio (O2) atmosférico na superfície dos corpos hídricos. Isso ocorre porque a solubilidade de qualquer gás em um líquido é afetada pela temperatura (Lei de Henry): à medida que a temperatura do sistema aumenta, a quantidade de gás que pode ser dissolvida no líquido diminui.

Quanto mais quente a água, mais agitadas ficam as moléculas de H2O. Com uma movimentação rápida, as moléculas de H2O interagem umas com as outras e diminuem os espaços entre elas para que as moléculas de O2 se acomodem. As moléculas de O2 precisam superar uma barreira energética chamada de energia de ativação, que fica mais alta devido à agitação das moléculas de H2O. Assim, a solubilidade do O2 é inversamente proporcional à temperatura da água.
A consequência é a diminuição da taxa de oxigenação. Isso significa menos oxigênio disponível na água para os seres vivos aquáticos respirarem, causando a morte de plantas, crustáceos, peixes, anfíbios e corais. Além da falta de oxigênio, muitas espécies são sensíveis à temperatura e têm faixas específicas de temperatura que podem tolerar para sobreviver e se reproduzir.

ACIDIFICAÇÃO
Os fitoplânctons absorvem CO2 e liberam oxigênio, assim como as plantas terrestres. Como os oceanos cobrem 70% da superfície do planeta, esses organismos fotossintetizantes chegam a absorver cerca de 1/4 (20%-30%) de todo o CO2 gerado por atividades humanas, como a superexploração e o uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural), além do desmatamento.

Quando o CO2 é absorvido pelos oceanos, ele reage com a água e se transforma em ácido carbônico (H2CO3), uma molécula extremamente instável. Quando ela perde um íon de hidrogênio, transforma-se em bicarbonato (HCO3). Quando perde outro íon de hidrogênio, transforma-se em carbonato (CO3). Os íons de hidrogênio livres na água aumentam a acidez da água. O carbonato, por sua vez, tende a se ligar novamente aos íons de hidrogênio livres, voltando a ser bicarbonato, impedindo a formação de carbonato de cálcio (CaCO3).

O carbonato de cálcio é a matéria-prima utilizada por diversos organismos marinhos na calcificação para a formação de conchas, esqueletos, moluscos e corais. A falta de carbonato de cálcio na água também prejudica os organismos que formam os plânctons, impactando toda a cadeia alimentar marinha.

Saiba mais
UNESCO State of the Ocean Report 2024:
Avaliação do ciclo de carbono do oceano – Ciência e Clima: https://bit.ly/3MZaPim
PDF Oceanic sinks for atmospheric CO2 – Plant, Cell and Environment: https://bit.ly/3waFtzy
Lei de Henry – Solubilidade de gases – Toda Matéria: https://bit.ly/3IZludz
Mudanças climáticas: o rápido e recente aquecimento dos oceanos que alarma cientistas – BBC, 2023: https://bit.ly/3LJ2NeO
Temperatura mais alta muda o ambiente marinho – Revista FAPESP: https://bit.ly/3roZsKZ

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