O agronegócio de monocultura ignorou os alertas sobre o problema da dependência química de drogas importadas. Agora, com a dificuldade em comprar fertilizantes russos, tem um problemão pela frente. O setor que já era insustentável sem subsídios do governo, sem dinheiro público, sem dinheiro nosso, agora não sabe seguir sem insumos estrangeiros.
Do outro lado, encontramos a agricultura familiar de pequenos e médios agricultores, as técnicas indígenas e quilombolas de cultivo, os Sistemas Agroflorestais (SAFS), todos que mantêm sistemas de produção diversificados, com respeito à capacidade de produção das terras, valor cultural e preservação dos recursos naturais. Que sabem, por experiência prática, adubar as plantas com insumos locais e naturais. Segundo o Censo, 70% dos estabelecimentos rurais brasileiros não usam fertilizantes químicos. Quem depende de fertilizantes que vem de fora é o agronegócio e suas monoculturas doentes e viciadas.
A agricultura familiar ocupa apenas 23% das terras agricultáveis no Brasil e é quem garante 70% da mesa do brasileiro, colocando alimento de verdade nas feiras e supermercados. Mostra como cultivar a terra sem depender de toneladas de químicos importados, como produzir alimentos mantendo um solo vivo e rico. Conhecem diversas plantas adubadeiras e técnicas naturais de enriquecimento do solo, aumentando o teor de matéria orgânica e potencializando a reciclagem de nutrientes. Assim, os cultivos diversos encontram os macronutrientes necessários na própria terra.
Monoculturas voltadas para exportação de commodities são a marca do atraso, com forte impacto ambiental e social. Herança de latifúndios que cresceram num modelo escravocrata e, que hoje em dia, são dependentes de grandes transnacionais do setor. Não precisa ir muito fundo para perceber que é ainda a mesma economia colonial devastadora, que explora o país e deixa o brasileiro a ver navios. É preciso evoluir para tornar produtivas áreas degradadas com sistemas biodiversos, para reaprender a plantar melhorando também a função social e ecológica da terra.
Saiba mais:
ANÁLISE: O agro não é tech, o agro não é pop e muito menos tudo – ABRA/Friedrich Ebert Stiftung: https://bit.ly/3vp9bys
Agricultura familiar garante 70% da mesa do brasileiro – Correio Braziliense: https://bit.ly/383cNhW
As técnicas agrícolas capazes de reduzir dependência do Brasil por fertilizantes – https://bit.ly/3JKZQHm
Caracterização de macronutrientes de espécies adubadeiras em sistema agroflorestal – Leda Montero/USP, Clovis Oliveira/Instituto de Botânica: https://bit.ly/39rhSyi
