Cooperação, altruísmo e solidariedade são forças evolutivas fundamentais em toda vida social, desde micróbios até seres humanos. Essa é a ideia central do cientista e ativista russo Peter Kropotkin (1842-1921), que combinava seus estudos científicos com uma forte militância pela transformação social. Kropotkin acreditava que o Estado e o capitalismo perpetuavam a desigualdade, a exploração e a violência, e que a verdadeira liberdade só poderia ser alcançada por meio da autogestão comunitária e da cooperação mútua. Em seu livro “Ajuda Mútua: Um Fator da Evolução” (1902), ele argumentava que, em um cenário de competição entre indivíduos isolados, a sobrevivência se tornava muito mais difícil. Suas observações sobre o comportamento social e colaborativo de diversas espécies mostraram que o trabalho conjunto é essencial para a sobrevivência coletiva.
Essa visão de Kropotkin contrastava diretamente com a do inglês Herbert Spencer (1820-1903), que aplicou os princípios darwinistas da seleção natural ao contexto social de maneira distorcida, defendendo que a sociedade humana evoluía por meio da competição. Curiosamente, o próprio Charles Darwin (1809-1882) discordava dessa ideia. Em “A Origem do Homem” (1871) — livro publicado mais de uma década após “A Origem das Espécies” (1859) —, Darwin afirmou que o processo civilizatório humano era, na verdade, uma negação da seleção natural. Estranhamente, até hoje, A Origem do Homem é pouco conhecida pelo público e até pela academia. No entanto, foi nesse livro que Darwin demonstrou que a cooperação é uma peça-chave na evolução das civilizações humanas.
Kropotkin, admirador dos naturalistas Charles Darwin (1809-1882) e Alexander von Humboldt (1769-1859), criticou Spencer por sua interpretação equivocada da teoria da seleção natural darwinista aplicada à sociedade. Essa interpretação de Spencer ficou conhecida como “darwinismo social” e foi amplamente usada para justificar o capitalismo ideológico ao longo dos séculos XIX e XX, promovendo competição, egoísmo e a busca por interesses individuais, mesmo que isso prejudicasse o coletivo e, como sabemos hoje, o planeta.
Saiba mais:
“The Prince of Evolution: Peter Kropotkin’s Adventures in Science and Politics” – Scientific American: https://bit.ly/3rnbcwU
“Darwin muito além do darwinismo” – Outras Palavras: https://bit.ly/43cM6OB