Discurso ecofascista

A espécie humana está na Terra há pelo menos 200 mil anos. Os hominídeos ancestrais (Homo neanderthalensis e Homo erectus) tem uma história muito mais longa. Somente de 150 anos para cá, depois da Revolução Industrial e com a aceleração de um sistema econômico que produz a concentração de poder, a maioria das nações capitalistas e suas indústrias passaram a estar na Terra de maneira aceleradamente destrutiva. Com o capitalismo industrial, sociedades capitalistas passaram a mercantilizar diversos aspectos da vida e incentivar a competição no lugar da cooperação, o egoísmo no lugar da generosidade, o ganho pessoal no lugar do bem coletivo, a promover o consumo desnecessário de ciclo rápido e a ignorar a produção de lixo. As emissões de gases do efeito estufa com a queima de combustíveis fósseis cresceram de maneira exponencial, como nunca antes na história do planeta. Controlados pela mídia industrial e pelas produções de cultura de massa, temos aceitado essa maneira de estar na Terra como a única possível. Temos aceitado que um sistema econômico destrua a Terra e coloque milhões em estado de vulnerabilidade para beneficiar muito poucos, por volta de 200 grupos no mundo todo: petrolíferas, indústria alimentícia, química, agro, de transportes, madeireiras e indústria tecnológica.

Esses grupos são responsáveis pelo esgotamento de recursos naturais, desmatamento e degradação ambiental, poluição da água e do ar, pela máquina de publicidade que incentiva o consumo cego e exibicionismo como se não houvesse amanhã. Esses 200 grupos causam a maior parte da emissão global de CO2 e da destruição, mas atuam com lobbies políticos e acadêmicos, influência direta em governos e forte trabalho de marketing, garantindo impunidade, consumo crescente, cego e acelerado.

No ano passado, a mídia ficou exibindo a competição entre dois bilionários -Richard Branson e Jeff Bezos- brincando de fazer bate-volta no espaço. Os dois gastaram bilhões para fazer voos espaciais e sabe-se lá quantas toneladas de CO2 cada projeto emitiu. Enquanto isso na Terra, a mídia não ficou mostrando em reportagem casada que 735 milhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia, bilhões vivem em situação de vulnerabilidade e estimativas calculam 1,2 bilhão de refugiados climáticos nos próximos 30 anos, vítimas de eventos extremos, crise hídrica, impacto ambiental de grandes projetos de mineração e energia, conflitos armados e falta de saneamento. Só na pandemia, 100 milhões de pessoas caíram na extrema pobreza. O Sul Global está na linha de frente.

Ainda assim, por uma produção narrativa desses próprios grupos, tem crescido o discurso ecofascista, que no lugar de questionar a desastrosa gestão de recursos e destruição deliberada por 200 grupos, explica que o problema é ter gente demais no planeta. Um discurso que defende a necessidade de deixar acontecer uma limpezinha de humanos na Terra. Acreditam que se diminuírem número suficiente de humanos, o planeta pode ser mais sustentável. “Ecologia ariana”. “Ódio verde”.

No Brasil, ecofascistas esquecem-se que no país, por exemplo, tem mais gado que gente –o gado não passa fome e têm onde morar. Fica claro que o problema do agravamento da pobreza, da destruição ambiental e do surgimento de pandemias é consequência de um sistema em colapso, altamente destruidor e insustentável. Não dá mais para deixar-fazer, deixar-passar. O fracasso é global. A maior parte da humanidade está afogada na pobreza, cercada por toneladas de lixo embaixo de uma camada de fumaça.

Saiba mais:
Ecofascismo: em defesa do planeta, movimento prega xenofobia e ‘limpeza’ – TAB UOL: https://bit.ly/3wUY8fx
O Ecofascismo – Carlos Taibo: https://bit.ly/2VNTX4p
Ecofascismo – segue o fio de Celia Sanchez | @nomelouco37: https://bit.ly/3rAsMdb
Ecofascism: Lessons from the German Experience: https://bit.ly/2VU527O

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *