E o seu nome é Antônio Bispo dos Santos, vulgo Nêgo Bispo! #NêgoBispo! Nascido em 1959 no Vale do Rio Berlengas, no Piauí, Nêgo Bispo morreu neste domingo (3), no Quilombo Saco-Curtume, também no Piauí, aos 63 anos.
Autodenominava-se um “lavrador de palavras” e propunha que tentássemos praticar o exercício diário de identificar as expressões coloniais de dominação para enfraquecê-las. Por exemplo, no lugar de “desenvolvimento sustentável”, Bispo propunha biointeração; parar de buscar esse “saber sintético” e buscar o “saber orgânico”; entender que compartilhar é muito melhor que trocar; que a educação/cultura para a autogestão é muito mais potente e que o imaginário é sem limite.
“Todo os dias somos bombardeados de informações dizendo que nós somos pobres. É preciso dar um basta em tudo isso. Que riqueza é essa do povo da cidade? Pobres são eles que não podem passar um dia sem trabalhar (que são mandados embora), que são escravos de um sistema.”
Deixa um legado de luta e ativismo contracolonização, acompanhado de muitas palestras e seminários gravados, artigos, poemas e livros. Dizia que é preciso desestabilizar o que foi normalizado. Era considerado um dos maiores intelectuais do país, sendo convidado por universidades e congressos para conversar sobre as ilusões e perversidade do nosso tempo em contraste com as “sabenças vivas”.
Como liderança quilombola, atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ @conaquilombos).
Hoje, vários perfis estão compartilhando palestras de Nêgo Bispo, como o @deleuzerecombination, @brasildefato, entre outros. Assista Nêgo Bispo falando, busque seus livros e vamos juntos continuar ecoando seus pensamentos:
“Por que usam a palavra agroecologia e não usam agricultura quilombola, ou roça indígena, ou agricultura de aldeia, de quebradeira de coco? A academia vive de transformar o saber (dos povos tradicionais) em mercadoria. Fomos nós que inventamos isso. Daí mudam o nome, chamam de agroecologia, e ficam nos vendendo curso de agroecologia!”
Saiba mais:
Antonio Bispo dos Santos, USP – Enciclopédia de Antropologia: https://ea.fflch.usp.br/autor/antonio-bispo-dos-santos
Quem é Antonio Bispo, quilombola que propõe a contracolonização – Nexo, 2023: https://bit.ly/46QUllu
Das palavras que germinam e desatam o colonialismo – Revista Cult, 2023: https://bit.ly/3RrsQdD
Livros:
A terra dá, a terra quer (2023)
Quatro cantos (2022)
Composto Escola: Comunidades de sabenças vivas (2022)
Colonização, Quilombos: modos e significados (2015)
Quilombos, modos e significados (2007)