Há pelo menos cinco décadas, dados científicos revelam o impacto dos combustíveis fósseis no clima, que hoje respondem por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa e quase 90% de todas as emissões de dióxido de carbono. Conferências globais têm resultado em acordos que exigem a transição energética para uma energia limpa. Além da emissão de gases do efeito estufa, as gigantes do petróleo estão envolvidas em vazamentos que destroem territórios inteiros. Mesmo diante das evidências e acordos internacionais, companhias de petróleo tentam se esquivar de suas responsabilidades, mostrando que não estão dispostas a mudar suas ações e, pior, trabalhando para impedir o avanço de quase todas as políticas climáticas hoje na mesa.
A britânica BP (antiga British Petroleum) e a Petrobras lançam suas garras para explorar petróleo na Amazônia. É urgente que o governo brasileiro e governos do mundo todo se prontifiquem e façam o que for necessário para barrá-los. O governo Lula deve dar o exemplo e honrar seus compromissos de campanha de salvar a Amazônia e de substituir a dependência dos combustíveis fósseis, na disputa por um projeto futuro e retomada da liderança do Brasil na agenda do clima. O mundo deve também se posicionar pelo clima e pela floresta.
O processo de licenciamento ambiental conduzido pela Petrobras em parceria com a BP seguiu passo acelerado durante o governo Bolsonaro, principalmente no fim do ano passado. Os cenários de um possível derrame de petróleo não citaram a foz do rio Amazonas, dando a entender que não existia risco, uma vez que a corrente marítima levaria o vazamento para o mar da Guiana Francesa, Suriname, Guiana e outras ilhas do Caribe (e pode?). A modelagem feita pela BP foi questionada pelo Ibama e pelo Ministério Público do Pará, provocado por pesquisadores da UFPA, que sinalizaram inconsistência. Não houve consulta prévia dos povos indígenas. Mesmo assim, numa reunião virtual em 15 de setembro passado, o Ibama concordou em dar continuidade. Em novembro, a Petrobras apresentou uma suposta complementação da modelagem, ainda falha. Agora, força a mão para começar os trabalhos antes do carnaval.
“Qualquer vazamento de petróleo causaria uma tragédia”, explica Suely Araújo, que presidiu o Ibama entre 2016 e 2018. O Oiapoque é uma região de mangues e campos alagados. Ali ficam dois Parques Nacionais de Proteção Ambiental e três Terras Indígenas. Edmilson Karipuna, coordenador do Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque, explica que quando a maré dobra, a corrente entra em direção aos rios. Em caso de falha, o petróleo invadiria toda região.
Vazamentos acontecem. Como exemplos recentes, temos o vazamento de 2500 barris de petróleo bruto no rio Cuninico, na Amazônia peruana no ano passado; de 6300 barris, na Amazônia equatoriana nos limites entre as províncias de Napo e Sucumbios. A BP já deixou vazar milhares de barris de petróleo no Golfo do México depois de uma explosão na plataforma Deepwater Horizon, em abril de 2010.
Saiba mais:
“‘Quando a maré dobrar, a mancha vai entrar’” – Sumaúma Jornalismo do Centro do Mundo: https://bit.ly/40KXYHR
“BP – Deepwater Horizon oil spill” – Britannica: https://bit.ly/2G5px7j
“A Grande Trapaça” – Corporate Accountability: https://www.corporateaccountability.org/wp-content/uploads/2021/06/A-Grande-Trapaca_PT.pdfUnited Nations, “Natural disasters occurring three times more often than 50 years ago: new FAO report,” March 18, 2021, https://news.un.org/en/story/2021/03/1087702.