Greenwashing

Na COP30, ouvimos expressões bonitas como “agricultura regenerativa”, “agricultura tropical de baixo carbono”. Esses são termos de greenwashing criados para soar sustentáveis, mas que escondem a mesma cega destruição. Vamos ao óbvio: a floresta está sendo trocada por boi. Não há tecnologia “verde” capaz de regenerar o que o agronegócio consome.

Segundo o MapBiomas e o IPAM (2024), o Brasil tem mais de 164 milhões de hectares de pastagens plantadas, área que cresceu 82% desde 1985 e hoje cobre quase um quinto do país. Só em 2024, 5,7 milhões de hectares queimaram, sendo 4,9 milhões na Amazônia, onde metade dos incêndios começa em pastos recém-formados.

A análise da revista inglesa DeSmog, publicada pelo Outras Palavras (https://abre.ai/agrizonedamentira), mostra como o agronegócio usa a COP30 para vender “soluções sustentáveis” que perpetuam o desmatamento e o uso de agrotóxicos.

Mentira 1: Agricultura regenerativa

Sem definição universal, o termo virou o queridinho de gigantes como McDonald’s, Cargill e Nestlé. Promete solos que “guardam carbono”, mas estudos mostram que isso compensa só uma fração das emissões do agro. Enquanto isso, a pecuária segue emitindo metano em volume equivalente à Índia inteira. Regeneram o discurso, não o planeta.

Mentira 2: Agricultura tropical de baixo carbono

É a versão brasileira do mesmo truque. A Embrapa afirma que o solo tropical poderia neutralizar o metano da pecuária, mas a ciência mostra o contrário. Segundo o SEEG (2023), a agropecuária (somando a pecuária direta e o desmatamento) responde por 74% das emissões nacionais, e 75% das emissões de metano. O MapBiomas (2024) revela que 97% da expansão agropecuária recente avançou sobre vegetação nativa.

Mentira 3: Sem aquecimento adicional

Países e empresas que querem suavizar o impacto da pecuária vão tentar empurrar o GWP* — uma métrica que não é adotada pelo IPCC. Usado por grandes produtores de carne e laticínios, o GWP* subestima o metano e permite que rebanhos cresçam enquanto outros setores são punidos. Pesquisadores chamam de “truque de contabilidade”. Como resumiu o ambientalista Caspar Donnison: é como dizer que você é neutro em relação ao fogo porque está colocando um pouco menos de gasolina no incêndio. Mesmo assim, o GWP* já ganhou apoio de governos e do agronegócio brasileiro.

Mentira 4: Bioeconomia

“Bioeconomia” deveria significar produzir em harmonia com a natureza. Mas o termo foi capturado para dar um verniz verde a biocombustíveis e biogás ligados a monoculturas de cana e soja, que avançam sobre florestas e competem com comida. Estudos mostram que, considerando desmatamento e produção, esses combustíveis podem emitir mais CO₂ do que os fósseis que substituem. Mesmo assim, o Brasil chega à COP30 querendo quadruplicar o uso desses “biocombustíveis”.

Mentira 5: “Nós alimentamos o mundo”

O agro usa esse argumento para bloquear qualquer regulação climática. Mas o planeta já produz 1,5 vez mais comida do que precisa. A fome persiste por pobreza, desigualdade e desperdício, não por falta de produção. Além disso, 50% do milho e 75% da soja viram ração animal, não alimento humano. Quando o Brasil saiu do Mapa da Fome, não foi graças à soja, mas às políticas públicas e à agricultura familiar. Pesquisas mostram que reduzir carne em países ricos e investir em sistemas agroecológicos é ganho triplo: menos emissões, mais saúde e mais comida de verdade.

Desmascarar o agro é proteger a floresta em pé. Trocar floresta por pastagem não é e nunca será sustentável. As florestas vivas absorvem duas vezes mais carbono do que emitem.

@karma.leao

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