
Do Rio de Janeiro até São Luís, no Maranhão, pés de amendoeiras (𝑇𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙𝑖𝑎 𝑐𝑎𝑡𝑎𝑝𝑝𝑎) marcam a orla urbana das praias mais famosas do Brasil. Com copas densas e largas, essas árvores oferecem sombras generosas. Apesar de já tão presentes na nossa paisagem, essa não é uma espécie nativa e compete com a biodiversidade costeira da Mata Atlântica, invadindo nossa restinga. Esse ecossistema só existe em solos arenosos e salinos, com plantas que dependem de muita luz solar e fauna que depende dessas plantas. O premiado botânico e paisagista Ricardo Cardim explica que a sombra dos pés de amendoeira acaba matando a vegetação típica da restinga, composta por herbáceas, trepadeiras e árvores de pequeno porte, como as pitombeiras. “Não é porque a amendoeira é bonita que faz bem para o ecossistema, porque ela realmente está matando essa vegetação milenar. Nesse sentido, é preciso remover essas amendoeiras para salvar a restinga.”
Essa espécie pertence à família Combretaceae, comum em áreas tropicais e subtropicais, e é originária da Ásia. No Brasil, segundo o REFLORA, foi naturalizada, mas ainda é considerada exótica e invasora por ameaçar espécies nativas e alterar a composição e a estrutura dos ecossistemas. O ICMBio define espécies exóticas invasoras como aquelas “que estão fora da sua área de distribuição natural e que ameaçam hábitats, serviços ecossistêmicos e a diversidade biológica, causando impactos em ambientes naturais.”
A árvore pode atingir até 30 metros, e especula-se que sua origem seja a Índia. É cultivada como planta ornamental. Seus frutos são mais apreciados por morcegos — apesar de comestíveis, são ácidos e amargos para o paladar humano. Suas folhas possuem propriedades terapêuticas e são usadas na medicina popular no tratamento de males estomacais, como antidiarreico e antipirético, além de terem ação anti-inflamatória e antiviral.
A biodiversidade é um aspecto comumente esquecido na arborização urbana. É essencial conhecer, valorizar e estimular o cultivo de plantas nativas também nas cidades. Cardim nos convida a refletir sobre a homogeneização biológica e a bioinvasão, revelando formas de “colonização da natureza”. Essas espécies foram introduzidas por projetos irresponsáveis de paisagismo ornamental, que, pouco a pouco, sufocam as espécies regionais e impactam negativamente nossa biodiversidade.
Saiba mais:
O que são espécies invasoras – ICMBio:
Ricardo Cardim – Amendoeira (Terminalia catappa): https://abre.ai/lU35
Cruz-Dias, Cleverson Danrley. Terminalia catappa (Combretaceae): estudo da arte, caracterização farmacobotânica: https://abre.ai/lU4n
Ribeiro, R.T.M., Marquet, N., Loiola, M.I.B. Combretaceae in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro: https://floradobrasil2020.jbrj.gov.br/FB22511
Rufino, Mariana Rodrigues et al. Exóticas, exóticas, exóticas: reflexões sobre a monótona arborização de uma cidade brasileira. Nota Científica – Rodriguésia 70, 2019: https://doi.org/10.1590/2175-7860201970051
Cardim Paisagismo: http://www.cardimpaisagismo.com.br/