O Acordo de Paris, adotado há 10 anos por 195 países, tem como meta limitar o aumento da temperatura global a 1,5–2°C. No entanto, apesar desse objetivo, o tratado não aborda diretamente as mudanças climáticas. Trata-se, na verdade, de um acordo global voltado para o comércio de carbono, que prioriza mercados em vez de enfrentar com urgência o risco de um aquecimento crítico e irreversível.
Para entender por que o Acordo de Paris é moldado pelo mercado, é essencial revisitar as Conferências sobre Meio Ambiente, como destaca o livro Capitalismo e Colapso Ambiental (UNICAMP). Na Eco-92, no Rio de Janeiro, compromissos de descarbonização e preservação da biodiversidade ganharam força, enquanto corporações foram neutralizadas pela pressão pública. Duas décadas depois, na Rio+20 (2012), lobbies corporativos e Estados-Corporações voltaram com força, bloqueando compromissos globais e prejudicando a sociedade. Esse padrão de resistência, visível desde a COP15 de Copenhague (2009), se consolidou no Acordo de Paris, que sequer menciona subsídios aos combustíveis fósseis.
A Plataforma Latino-Americana de Justiça Climática descreve o Acordo como parte de uma transição verde “forçada”, que privilegia soluções de mercado e acelera o colapso ambiental. Sua implementação tem gerado consequências graves para povos, territórios, florestas e o clima, ao criar um mercado global de carbono e reforçar falsas soluções como o REDD+. Além disso, o acordo enfraquece o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, apostando em ações voluntárias que não resolvem o problema.
Enquanto a extração e queima de combustíveis fósseis persistirem, o aquecimento global não será enfrentado de forma efetiva. É por isso que povos, movimentos sociais e organizações ambientais precisam expor as falhas do Acordo de Paris e continuar lutando contra o petróleo e as falsas soluções da crise climática.
Ele é, sem dúvida, um marco histórico, pois reuniu 195 países em torno de um objetivo comum: limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. No entanto, o Acordo também apresenta falhas significativas, como a falta de mecanismos eficazes para garantir que os países cumpram suas metas e a ausência de medidas claras contra os grandes emissores de carbono.
A saída do Acordo pode enfraquecer os esforços globais de combate à crise climática. Em vez disso, o mais eficaz é exigir que o Acordo seja corrigido, com metas mais ambiciosas e mecanismos para garantir que os países realmente cumpram suas responsabilidades. Continuar dentro do Acordo permite pressionar por mudanças e ainda manter o espaço para negociações essenciais para o futuro do nosso planeta.
Saiba mais:
Glossário da Justiça Climática – ArvoreAgua.org: bit.ly/GloJustClima
A terceira edição de ‘Capitalismo e colapso Ambiental’. O que mudou nos últimos 3 anos? – Jornal da Unicamp: https://abre.ai/lH44
Luiz Marquez: Capitalismo e Colapso Ambiental – 3ª edição. Editora da Unicamp (2019): https://abre.ai/lH46