Gelo marinho

O planeta Terra é um organismo vivo e interconectado: aquilo que acontece nos oceanos (71% da superfície terrestre) e nas geleiras ou mantos de gelo (10% da superfície) reverbera por todo o sistema climático da Terra. Somos parte desse organismo vivo e, quando ele entra em desequilíbrio, todos sentimos as consequências. Supor que o derretimento das geleiras não afeta nossa vida seria o mesmo que acreditar que o corpo pode funcionar bem mesmo quando algum órgão deixa de cumprir sua função.
Então, vamos “refletir” sobre o que está acontecendo com as geleiras, à luz do mais recente Boletim Climático do Serviço de Mudanças Climáticas do Observatório Copernicus da União Europeia, resgatando também conceitos fundamentais discutidos no Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima em Mudança do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).

Os novos dados:
1) Fevereiro de 2025 foi o terceiro mês mais quente já registrado na história;
2) Em 19 dos últimos 20 meses, a temperatura global já passou do limite de +1,5°C em relação à era pré-industrial e este é o valor máximo estipulado pelo Acordo de Paris para evitar um colapso sistêmico;
3) A temperatura média na superfície do mar (SST), excluindo as regiões polares, atingiu 20,88°C em fevereiro e este é um dos valores mais altos já registrados.
4) a cobertura de gelo marinho no Ártico ficou 8% abaixo da média histórica de fevereiro para essa época do ano.

Pensando sobre os dados:
As geleiras das regiões polares e os icebergs nos oceanos parecem brancos aos nossos olhos porque o arranjo cristalino das moléculas de água no estado sólido reflete quase toda a luz visível da radiação solar para o espaço. Cientistas chamam essa capacidade de uma superfície refletir luz de albedo.
Quando o gelo marinho de alta reflectância do Ártico derrete, sua água mistura-se ao azul profundo do oceano, de baixa reflectância. O que antes era refletido de volta para o espaço agora é absorvido pelo oceano, acelerando ainda mais o aquecimento global. Esse efeito é chamado de feedback climático pelos cientistas.
Além disso, esse aquecimento é agravado pela queima de combustíveis fósseis, que despeja na atmosfera gases do efeito estufa em níveis alarmantes, retendo ainda mais calor e acelerando as mudanças climáticas. Mas não é só o Ártico que derrete. O clima mais quente também afeta as espessas geleiras terrestres da Antártida e das altas montanhas. Diferente do gelo flutuante do Ártico, essas geleiras estão sobre terra firme e, quando derretem, contribuem diretamente para a elevação do nível do mar. Esse processo está acontecendo cada vez mais rápido.

O PAPEL DOS SATÉLITES E DO SENSORIAMENTO REMOTO
O monitoramento das calotas polares e dos oceanos é feito por cientistas utilizando satélites, modelos climáticos e medições diretas em campo. Um dos principais instrumentos para esse mapeamento é o programa europeu Copernicus Sentinel-1, que utiliza um radar ativo – ou seja, ele emite suas próprias ondas de rádio, permitindo a captação de imagens independentemente das condições climáticas e da luz solar. Isso é essencial para monitorar regiões polares, pois, durante o inverno polar, essas áreas passam por meses de escuridão contínua e têm alta cobertura de nuvens. Esse sistema permite aos pesquisadores acompanhar as geleiras em tempo real e entender o impacto das mudanças climáticas nos oceanos.

Saiba mais:
Boletim Climático Mensal – Serviço de Mudanças Climáticas/Copernicus, 2025: https://climate.copernicus.eu/climate-bulletins
Relatório Especial: Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima em Mudança – IPCC. 2016: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/3/2020/11/SROCC_SPM_Portuguese.pdf
Relatório do Estado do Oceano – 8o Relatório (2024) – Serviço Marítimo/ Copernicus: https://marine.copernicus.eu/pt/access-data/ocean-state-report/ocean-state-report-8
How climate change is shifting the water cycle – DW: https://bit.ly/3rK0e1z

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