Biointeração vs bioeconomia

Os povos tradicionais sempre compartilharam uns com os outros saberes e elementos da biodiversidade. Essa partilha do saber-viver na floresta selvagem, o pensamento selvagem, é a substância fundamental da biointeração. De poucos anos para cá, no entanto, a floresta virou alvo do mercado e instituições das grandes cidades começaram a dar novos nomes para práticas ancestrais. Assim surgiu o termo tão na moda agora: bioeconomia.

O debate atual dos que chegam é centrado no potencial de negócios, menosprezando o povo da floresta, excluindo seus direitos de propriedade intelectual e pluralidade epistêmicas.

Em entrevista à DW Brasil, o escritor, filósofo e ambientalista Ailton Krenak, uma das mais importantes lideranças indígenas no país, explicou que qualquer ação verdadeira para cuidar da floresta e enfrentar as mudanças climáticas precisa repensar e rejeitar a principal ameaça à vida: o sistema da economia global e da doença do dinheiro. Abaixo, um trecho da entrevista:

“O domínio da economia capitalista é predatório. A lógica do capitalismo é devorar o planeta. Não dá para você chutar a bola para o gol e pegar a bola no gol. Só se você for um homem borracha. Os bancos são vampiros, o agronegócio é vampiro. Todo mundo aqui é vampiro. E eles querem vantagens. Costuma ser coincidente também que esses vampiros são burros. Então, vai ter um dia em que eles vão morder o próprio pescoço.

A metástase é o vampiro chupando o pescoço dele mesmo, quando o clima do planeta não permitir mais ninguém fazer nada, ficar todo mundo morto na calçada feito uma lesma em dia de calor. Mas esses caras são tão burros que não adianta a gente dizer para eles que isso tá errado. Eles são fundamentalistas. Eles acreditam que o capitalismo é a única maneira de viver no planeta. Se eles continuarem acreditando nisso, eles não vão deixar a ideia do desenvolvimentismo. E o próprio governo do Brasil não vai conseguir escapar dessa receita medíocre.”

Saiba mais:
“Bioeconomia é só um ajuste ao gosto do capitalismo” – DW Brasil, 12/11/23: https://p.dw.com/p/4YiqJ

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