Empresas de energia eólica, atraídas pelos ventos constantes do semiárido nordestino, estão criando um verdadeiro cenário de horror no interior da Paraíba, nos municípios de Santa Luzia, Várzea, Solânea e Patos. Segundo dados do Censo de 2022, no estado vivem mais de 16.584 quilombolas. As instalações dos parques eólicos têm provocado desmatamento nestas comunidades, rachado casas, quebrado cisternas e alterado a dinâmica ambiental, perturbando tanto a vida selvagem quanto a vida de todos os moradores, com o barulho constante das turbinas. Os quilombolas, em reunião, decidiram que não querem mais essas instalações na região. Eles se opõem ao modelo de negócio e denunciam que estão sendo vítimas de uma forma de assédio, onde as empresas desqualificam os agricultores tradicionais e abusam de seu poder econômico.
Um dos moradores afirmou que esses empreendimentos, que chegam com investimento público, acreditam que podem fazer o que quiserem, como se lá não existissem povo e cultura. Além disso, a consulta prévia e informada, conforme estabelecida pela Convenção 169 da OIT e reconhecida pelo Brasil, não está sendo feita. Os moradores relataram em entrevista à Folha que nunca foram convidados a participar dos processos de instalação dos parques eólicos. O Ministério Público Federal já recomendou que o caso seja analisado. Moradores alegam que se trata de um novo formato de grilagem, com terras sendo arrendadas a preço de banana.
O Grupo Rio Alto, que chegou aos municípios de Santa Luzia e São Mamede no interior da Paraíba há três anos para construir “o maior parque eólico já instalado no Brasil, com geração de 1,6 gigawatt”, alega que está a 2 km de distância das comunidades, dando a entender que não tem relação com os impactos sofridos pelos moradores. A Neoenergia, que obteve licença para a instalação da linha de transmissão Santa Luzia II, entre a Paraíba e o Ceará, afirmou que repara ou paga indenizações em caso de danos materiais, como nas cisternas. No entanto, os relatos vão muito além de prejuízos materiais.
De acordo com o Censo de 2022 – Quilombolas, mais de 68% dos quilombolas do país residem na região Nordeste, somando cerca de 900 mil pessoas remanescentes de quilombos.
Saiba mais:
Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas em 1.696 municípios – IBGE: https://bit.ly/3XCbBJvQuilombolas e comunidades do Nordeste criam movimentos de resistência a empresas de energia – Folha de S. Paulo: https://shorturl.at/TlrwB